Um contrabando de texto pela actriz Carolina Bettencourt... "ensaios inspiradores"
ENTRE DOIS DEDOS E UMA MÃO CHEIA
Tira as botas. Calça os ténis. Tira a saia. Veste as calças. Despe o casaco. Enfia a blusa. Tira a mala. Arranja as molas. Amarra o cabelo. Solta o cabelo.
Sai carolina entra tia. Sai tia entra pai. Sai pai entra Miguel. Sai Miguel entra aurora. Sai rua entra cena. Sai a mesa. Entra cadeira. Sai palco entra plateia. Põe chapéu tira chapéu. Põe prata amachuca prata. Uma perna que cruza noventa graus. Uma mão de pulso quebrado. Um corpo pesado. Um corpo leve. Um grito. Um agrado. Um silêncio. Um vazio. Gaguejar. Berrar. Levantar. Respirar. Sopa de massa. Frase métrica. Esquerda. Direita. Passo ao lado. Três quartos e cena feita. Dois choros de lamento e um tom jornalístico, reajusto de contas para a contagem que não anda. Não marca. Experimenta. Improvisa. Diafragma sobe e desce. Língua seca enrola salivas de poder.
Pausa. Dois minutos a fugirem para um e meio em meia dúzia de correcções de corredor.
Dois apontamentos. Duas horas depois. Tiro os ténis. Calço as botas. Tiro as calças. Visto a saia. Desenfio a blusa. Visto casaco. Arranco as molas. Ponho a mala. Solto o cabelo. Amarro o cabelo.
Texto. Relógio. Minutos. Sol de madrugada. Duas garfadas.
Conversa fiada. Três virgulas confessadas.
Pólo negativo. Sereno. Rádio. Surpresa. Calma. Sorriso. Espera. Alcance.
1:46.
Sem comentários:
Enviar um comentário